Vitória de Trump: o que isso significa para a economia?

É inegável que os Estados Unidos exercem enorme influência sobre a economia global, seja sob um mandato democrata, seja sob um republicano.

É exatamente por isso que é interessante analisar o que a vitória de Donald Trump e do partido republicano significam para as economias globais, em especial a brasileira, considerando, também, que as duas linhas políticas apresentavam planos econômicos bastante distintos.

Os enfoques gerais da política econômica trumpista são o aumento das tarifas comerciais e o incentivo às empresas e indústrias estadunidenses, ou seja, os próximos anos serão marcados por um tom nacionalista por parte dos Estados Unidos.

Em adição, o futuro presidente promete realizar a maior deportação em massa de imigrantes ilegais da história do país, sobretudo de origem latinoamericana. Outro ponto que preocupa a comunidade internacional é a perspectiva de retrocessos quanto à questão climática, tendo como base o plano de governo republicano e o novo mandato de Trump.

Efeitos imediatos

Na quarta-feira em que Trump foi declarado vitorioso, tais propostas geraram uma expectativa nos retornos futuros americanos, o que aumentou as taxas de juros das Treasuries, os títulos americanos, atraindo um enorme fluxo de capital estrangeiro para o país e, consequentemente, fortalecendo sua moeda em relação às demais. O dólar subiu 1,4% em relação à libra, ao iene e ao euro. Já no Brasil, apesar de uma alta na moeda de R$5,74 para R$5,86, terminou o dia com uma baixa de 1,2%, R$5,67. 

Tais expectativas também reverberaram no mercado acionário, o qual fechou o dia com altas recorde na NASDAQ. Entretanto, o banco JPMorgan argumenta que o otimismo durará até 2025, quando o novo governo for, de fato, instaurado e as inseguranças quanto à executabilidade desses planos aflorarem.

Nesse mesmo dia, a Bitcoin, criptomoeda que estava há algum tempo perdendo popularidade, teve uma alta de US$6.600, chegando à US$75.999,04.

Tarifas e exportações

O principal plano do novo mandato – considerando especialmente a guerra comercial com a China – volta-se para o aumento das tarifas comerciais. Para produtos de outros países em geral, prevê-se de 10% a 20% de taxas, já para o mercado chinês, a previsão é de 60%.

De forma direta, o impacto no Brasil será a redução de exportações, dado o aumento dos preços de mercadorias brasileiras no país, o que abalaria cadeias produtivas e industriais aqui.

Já de forma indireta, também haveria uma redução das exportações e dos preços das commodities, tal como cobre, alumínio, ferro e soja. Isso se daria pela redução da demanda chinesa por esse tipo de produtos, dada a queda de suas exportações com a desaceleração econômica decorrente do novo plano tarifário. 

Para a BBC, José Francisco de Lima Gonçalves, professor aposentado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e economista-chefe do Banco Fator, constatou que o protecionismo tarifário, como é chamado no jargão econômico, “ou vira inflação ou vira redução de demanda”.

Um produto que pode ter repercussões positivas, no entanto, é a soja, dado que a China, com uma redução da compra dessa commodity dos EUA, pode suprir essa demanda com produto brasilero. No entanto, esse aumento na procura pela soja pode não compensar a queda nos preços.

É importante ressaltar que, enquanto o novo mandato não estiver em vigência, não é possível afirmar com certeza os efeitos que essa mudança terá na economia brasileira ou mundial. Inclusive, economistas de diversas fontes constatam que a implementação das altas tarifas desejadas por Trump, pode ser difícil, mesmo com maioria na câmara dos deputados e no senado. 

Câmbio e ativos

A política fiscal expansionista e as reduções de impostos envisionadas pelo novo mandato de Trump geram expectativas de alta nos juros, o que torna os ativos americanos mais atrativos quando comparados aos dos demais países, especialmente considerando a segurança nos retornos. Como consequência, a entrada de dólares no país fortalecerá ainda mais a moeda, enquanto o real, em comparação, perderá força. 

O viés inflacionário da abordagem isolacionista nos EUA também tem efeitos nas taxas de juros nacionais. Isso decorre da incapacidade do país de suprir completamente a demanda de produtos importados, dessa forma, as taxas são repassadas para os preços, gerando inflação. Esse processo também incentiva o aumento nos juros americanos que – como previamente analisado – elevam o preço do dólar, causando inflação no Brasil e a consequente elevação dos juros nacionais, o que pode desacelerar a economia.

Outro fator que tenderia à inflação e ao aumento do preço do dólar é a perspectiva de deportações de milhões de migrantes ilegais. Essa população exerce importante papel na economia, e são a base de diversos setores, como a construção civil e os serviços. Sua deportação abalaria essas áreas, pelo menos no curto prazo, encarecendo os preços e, em última instância, o dólar.

Nesse sentido, a perspectiva é de desvalorização do real e de esfriamento da economia. Contudo, o momento pode ser de oportunidade para a aproximação com outras economias, que também estarão sob a perspectiva de menores relações comerciais com os EUA.

 

Clima

Como o 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump pretende não apenas restringir medidas pró-clima, mas incentivar ações destrutivas quanto à questão climática.

Um primeiro ponto a se destacar é a possibilidade de retirada do país de acordos internacionais sobre o clima, sob a justificativa de que essas ações são “extremismo climático” e que objetivam atrasar o desenvolvimento do país. Ainda, o Agenda 47, plano de governo republicano, aponta não apenas para a retirada de restrições à indústrias de combustíveis fósseis, mas também para incentivos à elas, buscando, também, tornar o país menos dependente de elementos externos, como a OPEP. 

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